16 de julho de 2009

Significado político dos cartazes

[Artigo de opinião publicado no Diário de Notícias, em 16 de Julho de 2009 (o título não é meu)]

Não se ganham nem perdem eleições por causa dos cartazes eleitorais, como não bastam os candidatos que se apresentam, os programas eleitorais propostos, as entrevistas concedidas ou os debates em que se participa.
Sozinho, cada um dos elementos não é decisivo, mas fazem parte de um todo que faz com que o resultado possa ou não ser o desejado por cada partido.
A função dos cartazes é assim, a um tempo, dar o mote para as posições que se vai assumir na campanha e, a outro, reforçar essas mensagens. Evidentemente, não se apresenta um programa político nos cartazes, mas pode-se apresentar as ideias-chave do mesmo ou da campanha que se está a desenvolver.
Tratando-se de mensagens curtas, é necessário fazer a melhor síntese do que se quer transmitir, apresentando propostas, promovendo os seus candidatos ou atacando os adversários. E para serem eficazes têm de transmitir uma mensagem consistente com o resto da campanha, funcionando até por vezes como auxiliares para descodificar as mensagens mais complexas que se vai transmitindo nos debates, entrevistas, tempos de antena, etc.
O cartaz que o PS já colocou no terreno, com Sócrates rodeado de pessoas e a frase "Avançar Portugal", merece assim uma análise atenta, pelo que pode indicar relativamente às propostas políticas que pretende apresentar ou o mote que quer dar à campanha.
Faz recordar um cartaz da campanha de Ségolène Royal para a presidência francesa, em que esta surgia no meio de muitos cidadãos. Apresentava-se como "uma de entre nós", "próxima das pessoas".
O contraste com o cartaz do PS não podia ser maior. Neste, percebe-se que todos estão a olhar para Sócrates (ao contrário do cartaz de Ségolène), mas não se vêm mais rostos para além do seu e o de uma jovem que olha para ele com o ar mais embevecido que se pode conceber. A jovem parece admirar tanto o líder do PS que se, como na banda desenhada, existisse um balão a ilustrar os seus pensamentos, teria de dizer qualquer coisa como "ele é tão fantástico!".
O líder do PS, com um sorriso confiante, aparece como um líder épico. E a frase "Avançar Portugal" indica o rumo, o desígnio a que o líder nos conduz.
Sócrates tem razão quando diz que o combate eleitoral vai ser uma escolha de “atitude”. Mas se é esta a “atitude” política que o PS nos trará para as legislativas, é bom que se prepare para um mau resultado. Se persistir nessa postura, é porque não compreendeu os resultados das europeias.
O que os cidadãos esperam dos políticos é humildade (e, infelizmente, cada vez mais pessoas já não o esperam). Não tanto porque essa seja uma característica pessoal de grande valor, mas sobretudo porque ela permite compreender os erros e corrigir a direcção.
Nas europeias os eleitores pediram uma correcção de rumo, não o reafirmar da mesma “atitude”. E isso implica uma alteração nas políticas, talvez já não as deste governo, mas nas propostas para a próxima legislatura.
O primeiro cartaz do PS dá quanto a isto um péssimo sinal.

1 comentário:

  1. Acho importante que se reflita sobre todo o movimento associado às campanhas eleitorais e seu possivel desenvolvimento, no entanto mais importante que analisar os conteudos dos cartazes e suas possiveis interpretações centrando-se na estratégia do actual governo, notoriamente procurando descredibilizar e provocar o actual executivo, considero fundamental reforçar a importância do conteudo efectivo das propostas de todo o espectro partidário e relembrar os cidadãos de toda a governância adoptada pelo PS ao longo destes anos (bem como dos governos anteriores) e fomentar a consciência critica na massa popular. Para que não se esqueçam das promessas não cumpridas, das estratégias de submissão ao capital em detrimento do social, bem como da submissão aos desejos de uma comunidade europeia em detrimento da identidade nacional. Não venho com isto diminuir a importãncia do escrito por ti (tenho-te em optima consideração pelo que escreves e como o fazes - e obviamente como pessoa) mas tendo o privilégio de poderes utilizar uma coluna de um jornal para abordar temas que tanto nos dizem respeito peço-te que sejas mesmo caústico na tua critica às politicas adoptadas pelo PS, principalmente para a falta de controlo e regulamentação que este governo demonstrou quanto aos "mais previligiados". Ou seja, o cidadão comum tem sofrido, e muito, com o controle efectuado pelas finanças e seu impacto no individuo; com o desemprego e impunidade dos "investidores" quando estes fecham as empresas lançando para a rua milhares de desempregados e depois abrem outras empresas ou têm milhões em off-shores; os especuladores que têm ligações obscuras com grandes empresários, partidos politicos, etc, que levaram a esta crise e aos quais nada acontece; o tempo que demora à justiça agir levando à prescrição dos crimes; aos investimentos megalomanos que o estado faz (ou pretende fazer)dos quais pouco ou nenhum retorno obtém; à promiscuidade que existe entre membros ou ex-membros dos governos e grandes grupos de empresas; etc.
    Muitos seriam os temas que podes atacar, muitos ficariam gratos por utilizares esse espaço para confrontar o "poder" e dar voz ao pequeno e comum cidadão.
    Mas claro que esta é apenas a minha opinião e tu, melhor que ninguem, saberás o que podes colocar nesse espaço de "liberdade critica" que tens no jornal.

    Grande abraço

    Luís Pedro V R Almeida Serra

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