3 de julho de 2009

O touro enraivecido

Discutia-se o estado da nação no parlamento. Um ministro faz uns cornos (na sua própria cabeça, curiosamente) para um deputado da oposição.
Isto já diz muito do estado da nação - uma crispação enorme entre o governo e a oposição, mas também na própria sociedade.
O ministro demitiu-se (ou foi demitido) e muito bem. Por três razões:
1ª Porque para alguém se dar ao respeito tem de respeitar os outros, pelo que deixou de ter condições de respeitabilidade;
2ª Porque desrespeitou um deputado da oposição, que merece todo o respeito do governo e não deve ser tratado como um inimigo, mas como um representante do povo;
3ª Porque desrespeitou o parlamento, órgão a quem o governo (e, portanto, o ministro) tem o dever de prestar contas.
A oposição exigiu a demissão do ministro e as desculpas do governo. Ambas lhe foram concedidas. Uns e outros agiram bem.
Quem esteve mal foi Manuel Pinho e sobre ele recai o opróbrio de um acto inaceitável.
Durante os próximos dias ainda se falará muito do caso mas, a não ser que haja novos desenvolvimentos, já não há muito a dizer.
Mas este caso faz-me retomar um caso semelhante que não teve o mesmo tratamento. Há poucos meses, o deputado José Eduardo Martins, do PSD, gritou repetidamente "vai para o caralho" (assim, com as letras todas) para um colega de outro partido que intervinha no plenário.
Passadas umas horas, já sem estar a quente, pediu desculpa a todos os deputados, menos áquele que era alvo dos impropérios.
A quente é mal educado. A frio mantém a grosseria.
Não me recordo de ver na altura o líder parlamentar do PSD a exigir a demissão do seu colega de bancada, seu vice-presidente no grupo parlamentar, como agora fez (bem) com o ministro da economia.
Porquê? Os gritos de José Eduardo Martins são menos graves do que os cornos simulados por Manuel Pinho? Ou Paulo Rangel acha que aos deputados se exige menos decoro do que aos ministros?

1 comentário:

  1. A meu ver estas questões não são assim tão claras.

    Falamos aqui da forma, e não do conteúdo. No entanto, pessoalmente prefiro um ministro que faz pelo país, mesmo que desrespeitando toda a gente, do que um ministro que respeita toda a gente e não faz pelo país. A realidade é porém outra. Isto de "fazer pelo país" é ambíguo e discutível. Desrespeitar outro é algo mais simples de ser analisado. E assim se dá, como em tantas outras ocasiões, mais importância à forma que ao conteúdo.

    Quanto às três razões apontadas:
    1º Para se ser respeitado tem de se respeitar. Não me parece assim tão claro. A ser assim estaríamos no caso do olho-por-olho; desrespeitar alguém daria então permissão aos outros para nos desrespeitarem a nós.
    2º O ministro desrespeitou um deputado da oposição. Sim, é verdade. Mas naquela casa raras serão as pessoas que não desrespeitam os outros. Há mil e uma formas de desrespeitar. Parece-me novamente um caso de sobrevalorização da forma sobre o conteúdo.
    3º O ministro desrespeitou o parlamento. Sim, é verdade. E novamente se aplica o que atrás disse.

    Na realidade, desrespeitarem-se uns aos outros dentro daquela instituição parece-me um assunto bem menor quando comparado com os desrespeitos insistentes do dinheiro dos contribuintes e de toda a população do país!

    Na minha óptica, se ele era ministro da economia, então discuta-se a economia. E se se quer discutir o respeito, então discuta-se o respeito.

    Não estou a defender o Manuel Pinho, que não o conheço de lado algum, e muito menos a atitude dele, que sem dúvida me parece reprovável. Mas isto faz-me lembrar um pouco a violência doméstica: a mulher mói todos os dias a cabeça ao homem, coisa de que não pode ser acusada, até ao dia em que o homem se passa e lhe dá um bofardo e adquire o estatuto de criminoso! :)

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