No diário de notícias de hoje, João Miguel Tavares sugere que se deite abaixo o Parque Eduardo VII. Como refere, aquele desenho de jardim não serve para mais nada além dos 17 dias que dura a Feira do Livro. A própria Feira do Livro é feita nas duas laterais, com o grande corpo central vazio, na sua geometria majestática, bem ao estilo do Estado Novo, tempo em que foi construído.
Concordo com João Miguel Tavares. Os jardins são para serem vividos e usados. Não são só para ver de longe.
Parece que se criou uma ideia na cidade de Lisboa de que não deve haver intervenções nos jardins, que por isso não vão acompanhando as novas ideias de vivência da cidade, ficando velhos e vazios.
É o que acontece também nos jardins do Campo Grande. Muitos lisboetas passam diariamente por lá, mas de carro. A quantos ocorrerá passar por lá a pé?
Em tempos pensei que era o facto de estar ladeado por faixas automóveis que inibia o seu uso. O apurado sentido crítico de um amigo (Filipe Pinto) alertou-me para a concepção do jardim. Certamente adequada para os tempos em que os namorados iam passear de barco naquele pequeno lago, mas completamente desadequado para os dias de hoje.
Outro exemplo que conheço bem: o Jardim da Parada, em Campo de Ourique. É um espaço muito utilizado, onde circulam centenas de pessoas por dia. Mas o seu espaço ajardinado (protegido por guardas metálicas) é simplesmente deplorável. Valem-nos as árvores, que ao nível do solo o resultado é mau de mais.
Será que os jardins que recebemos das anteriores gerações têm de se manter inalterados até ao fim dos tempos? Será que não se pode remodelá-los com projectos de arquitectura paisagística mais contemporânoes, que tornem a sua vivência mais agradável?
Parece que não. Deve haver nsta matéria um qualquer tabu que desconheço.
Para concluir, uma breve sugestão: e se em vez de se utilizar aquele espaço da antiga Feira Popular (que agora é um descampado no meio da cidade) para construir mais prédios, criando com isso uma receita de largas dezenas de milhões de euros, é certo, se criasse ali um grande jardim?
Custaria essas dezenas de milhões de euros, mas estava a construir-se uma cidade diferente, mais equilibrada em termos espaciais e ambientais. É uma oportunidade que não se repetirá nos próximos cem anos. Não seria melhor aproveitar agora?
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