22 de junho de 2009

O PS ganhará as legislativas se virar à esquerda

(Artigo de opinião publicado no Diário de Notícias, em 21 de Junho de 2009)

Apesar de o resultado não estar garantido à partida, é relativamente fácil a Sócrates e ao PS assegurar a vitória nas legislativas. Para tal, porém, será necessário tomarem algumas medidas, que se situam em três níveis distintos: discurso, protagonistas e políticas.
Ao nível do discurso a mudança já está em prática. Parece que o PS compreendeu que se afasta da maioria dos portugueses quando insiste com o discurso vitorioso em relação ao desenvolvimento do país (e aos sucessos do governo) e quando ataca violentamente a oposição. Pode agradar às suas hostes mais entusiastas, mas utiliza a linguagem da “tribo” que, acossada, cerra fileiras com os seus mais fiéis. Só que, não se tratando de uma guerra mas de eleições, o mais importante não é cerrar fileiras, excluindo os menos fiéis, mas ser inclusivo e abrir ao exterior.
Para tal, o PS precisa de mostrar que compreende as dificuldades e preocupações dos portugueses, que estes são tempos difíceis, mas que está empenhado em tentar minorar as suas consequências presentes e em lançar as sementes para um futuro melhor. Com humildade, preocupação e esperança. Destas, tem falhado sobretudo a primeira, que Sócrates tenta agora corrigir.
Ao nível dos protagonistas, o PS não poderá dispensar mudanças mais profundas do que a simples troca de porta-vozes. Depois de na noite eleitoral ter afirmado que o governo manteria o rumo, é altura de mostrar que compreende a mensagem que os eleitores quiseram dar e corrigir alguns erros e dificuldades na governação. Com essa humildade poderá atenuar a imagem de arrogância que lhe é atribuída, que é o seu maior handicap.
A remodelação do governo permitirá desbloquear algumas das áreas que estão paralisadas. Alguns ministros perderam toda a capacidade de diálogo e a sua acção resume-se à gestão administrativa dos ministérios. Até à tomada de posse do governo saído das legislativas não haverá tempo para tomar grandes medidas, mas estes seis meses também não devem ser tempo perdido. Novos ministros, que conheçam os sectores e tenham a capacidade de governar em diálogo, poderão fazer muito mais.
É da natureza da política actual que aquilo que tem maior impacto para os cidadãos e para o país, as políticas, seja o que geralmente menos votos gera. Porém, José Sócrates não conseguirá recuperar muitos dos eleitores que agora se abstiveram se tentar mudar apenas o discurso e os protagonistas. Isso soará a demagogia vã e, no estado de descontentamento em que se encontra o país, essa será fortemente penalizada nas urnas. A solução adoptada no Ministério da Saúde, em que a substituição do ministro aliviou a tensão e permitiu continuar as mesmas políticas, não será suficiente.
É então necessário que o PS faça uma alteração nas políticas, fazendo uma inflexão à esquerda.
Juntos, CDU e Bloco de Esquerda obtiveram 21,4% dos votos nas europeias. Nunca, nem mesmo nos primeiros anos após o 25 de Abril, os partidos à esquerda do PS tiveram uma votação tão elevada. É certo que o resultado não pode ser extrapolado para as legislativas, mas é incontornável fazer uma leitura ideológica: não foi a população portuguesa que se deslocou para a esquerda, considera é que o PS que se deslocou para a direita. Aliás, o fenómeno Manuel Alegre era já uma manifestação deste sentimento.
A maioria dos eleitores habituais do PS não transferiram o seu voto para outros partidos, mas para a abstenção. Se não sentirem que há uma correcção no rumo das políticas, nas legislativas haverá uma divisão desses votos entre o PS, o BE, a CDU e a abstenção.
Se tal suceder, apesar de os partidos de esquerda poderem ter mais votos, poderá ser a direita ganhar as eleições. Por exemplo, quem garante que não haverá uma nova AD formada antes das legislativas?
Se o PS quer continuar no governo, sozinho ou com o apoio de outro partido, terá de fazer coincidir a mudança de estilo com a mudança de políticas. Se não o fizer irá pagar eleitoralmente essa inconsistência. Caro, como se comprovou nas últimas eleições.

Henrique Baltazar

3 comentários:

  1. primeiro?
    quando vens cá cima?

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  2. já agora espero uma vitória da direita e uma maioria da esquerda. 114/116 deputados para cada lado. assim sendo nada impediria da esquerda formar um governo constituído pelos quatro partidos ps, pcp, be e pev(concorrerá com o pc?) e não o partido vencedor.
    o ego piaria baixinho, alguns sapo seriam engolidos e teríamos finalmente os pequenos partidos de esquerda a trabalhar naquilo que sempre defenderam e nos campos/ministérios que aparentam estar mais vocacionados.

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  3. Sou da opinião que o PS não ganhará as eleições legislativas, mesmo virando à esquerda, porque ficou sem qualquer espaço.
    A mudança de discurso verificada depois das eleições europeias soa a falso, a mudança dos protagonistas não acontecerá até às próximas eleições tal como a mudança de rumo (políticas) que a acontecer só se verificará se o PS ganhar as eleições. E, se apostar nessa mudança das políticas (não é certo que aconteça) vai ter de fazê-lo durante a campanha, pondo a nu as suas incompetências governativas e as suas inconsequências ideológicas…
    A única dúvida que posso ter sobre a possibilidade do PS não perder as eleições reside no capital de votos que o Manuel Alegre tem e mesmo aqui julgo que muito dependerá da sua participação e mobilização…

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